6/11/09

O vocalista da tua banda poderia cantar melhor sim! Será que ele já conhece a técnica vocal?

Até parece que na empolgação do show ou no ensaio o vocalista não escuta quando desafina. E também não se enxerga quando fica vermelho feito um peru na hora das notas agudas que com dolorosa dificuldade atinge para cumprir com sua função. (Dolorosa, digo, para ele e para quem escuta).
Mas não deveria ser assim. Certamente não se trata de generalizar. Na música popular, no pop e no rock, existem grandes vocalistas que conhecem a técnica e usufruem da sua maior vantagem e objetivo, que consiste em evitar qualquer desconforto ao cantar.
A finalidade da técnica é que a emissão seja prazerosa e libertadora. Portanto, qualquer dor ou sensação desagradável na hora da canção ou depois é sinal de que o cantor poderia estar curtindo mais a sua interpretação se estivesse usando o seu corpo da forma correta.
A tradição mostra que para tocar qualquer instrumento é necessário fazer aula. Dificilmente você, guitarrista, poderia intuir sozinho em que consiste a formação dos diferentes acordes ou a sequência de notas que compõem uma determinada escala.
Mesmo assim ainda persiste o mito pelo qual muitos acreditam que cantar é um dom, que não tem a ver com estudo. Frequentemente algumas pessoas se lamentam pra mim: “eu não tenho voz, não posso cantar” então eu respondo: ”Você não tem voz? Você é muda?”
Segundo essa crença desatualizada, existem por um lado os abençoados que nascem cantando bem e por outro os condenados a ficar passando vergonha no karaokê.
Mas os tempos mudam e a evolução do conhecimento científico permitiu entender o funcionamento do aparelho fonador.
A infinidade de exercícios possibilita a expansão da nossa voz sem preconceitos. Obviamente que os casos geniais de músicos que nunca estudaram existem e sempre existiram na história, mas nós, simples mortais, podemos evoluir de forma surpreendente se contarmos com o treino adequado.
Imagine o melhor equipamento de guitarra do mundo e coloque-o nas mãos de uma pessoa leiga. Provavelmente ela não conseguirá tirar um som decente daqueles magníficos instrumentos. Precisaria investigar as possibilidades de uso para obter melhores resultados. Traduzindo: teria que estudar.
Agora pensemos numa criança de dois anos de idade. Como poderíamos julgar se ela tem talento para ser escritora antes de ser alfabetizada?
Por isso existe a técnica vocal, para conhecer as vantagens do instrumento que nosso corpo nos oferece. Somente depois de uma mínima incorporação da técnica poderemos ter uma noção das nossas possibilidades vocais.
Mas o mito persiste na cabeça dos românticos roqueiros: “rock n’roll é atitude e não precisa de técnica”, escuto falar.
Mas a técnica tem como objetivo livrar o vocalista das suas limitações de tessitura – o que, em outras palavras, são as notas agudas e graves que o cantor consegue atingir sem esforço. O uso correto da voz resguarda o cantor, evitando doenças que futuramente impediriam que ele continuasse se apresentando, e lhe oferece o domínio total e a criação do próprio timbre em busca da sua personalidade como artista.
Para aqueles que sofrem e ficam sem voz depois do show ou que precisam repetir mil takes no estúdio para conseguir os resultados desejados na hora da gravação, precisamos transmitir uma boa noticia: a técnica facilita o canto e supera limites.
E um dos princípios do rock não é a pretensão de quebrar barreiras? Quem faz música não persegue a liberdade?

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