Notas super agudas te torturam?

A altura da música é muito aguda para tua voz? O pessoal da banda se recusa a mudar o tom? Você tem que cantar Cássia Eller no tom original quando tua tessitura* e timbre são semelhantes ao da Sandy? DIGA NÃO, NÃO, NÃO!!! É o seu direito como cantor da banda!!!
É fundamental que o vocalista se sinta confortável com seu repertório. Ninguém como você mesmo para selecionar quais músicas combinam com a sua voz. Ninguém canta bem um som que detesta, como também é impossível uma boa interpretação baseada na utilização de um tom mal escolhido.
É importante reconhecer se as dificuldades para atingir certas alturas na hora de cantar uma melodia se devem a falhas técnicas, no caso de vozes não educadas, ou se se trata de limitações anatômicas.
Por exemplo: um homem não conseguirá emitir um som agudo do tipo daqueles produzidos pelos golfinhos, porque a estrutura física e tamanho das suas pregas impossibilita a emissão de tais freqüências.
Por outro lado, existe o conceito de alongamento das pregas, quer dizer, que através da técnica é possível aumentar a extensão vocal, quer dizer, o alcance de agudos e graves, muitas vezes prejudicado por desconhecimento e falta de treino por parte dos vocalistas. (Se esse for teu caso: Tá na hora de procurar um professor!).
Uma vez reconhecido o limite físico e praticada a técnica vocal certa, devemos pensar na música em questão. Trata-se de uma melodia com uma que outra nota que incomoda? Nesse caso, a solução freqüentemente é mudar a notinha chata por uma quinta, oitava ou até terça que seja mais confortável dentro do contexto harmônico.
Ou você sente que o tempo todo está forçando um timbre de voz exageradamente grave o agudo? Às vezes, existe uma questão de preferência ou gosto por um timbre ou som que adquire uma característica determinada soando mais grave ou estridente. Mas, em outras ocasiões, é indispensável repensar a tonalidade escolhida.
Trata-se de um cover ou de som próprio? No caso do som próprio é mais fácil: o canto tem mais liberdade e criatividade... Convença o pessoal da sua banda pra mudar o tom! E não deixe eles falarem coisas do tipo: “cante no ‘lá’, porque na guitarra esse acorde soa melhor do que o ré sustenido”,...NÃO!!! Se a interpretação vocal ficar esquisita, poucos ouvintes notarão a diferença entre um acorde mais aberto ou fechado dos sagrados guitarristas...
Enfim, um pouco mais complicado é cantar cover. Para começar, não devemos esquecer: “as meninas com as meninas, os meninos com os meninos”: se você for garota, cante cover de cantora, se for menino, de cantor e assim por diante.
Então é o momento de questionar qual é a decisão estética da banda tratando-se de um cover. O que importa é: 1)Realizar uma cópia exata do som original? Ou 2) fazer uma releitura com personalidade própria?
Escolher uma música de Queen e baixar a tonalidade três tons, provocaria uma catástrofe. Se perderia, assim, a essência da música. Agora, subir um tonzinho numa música de U2 também não é o final do mundo. Por isso, é preciso bastante critério artístico para achar o equilíbrio.
O mais importante é não forçar: se você sentir qualquer desconforto não hora de cantar, principalmente nos graves e agudos, PARE!!! Você está errando em alguma coisa. Se esse for teu caso, seria legal consultar um fonoaudiólogo ou professor de canto. Insistir em emitir notas com esforço, sem um acompanhamento profissional sério, pode provocar alterações traumáticas da laringe como o granuloma de contato, os pólipos e os nódulos, os quais devem ser retirados mediante cirurgia.
Trata-se de cantar com liberdade, sem medo de sumir intentando um grave exagerado, nem de morrer no meio de um agudo super-exigido. A palavra-chave como sempre é a técnica.
Nosso canto, então, deverá ser uma ação libertadora e prazerosa e o nosso objetivo, crescer cada dia mais como artistas e superar os nossos limites.


*tessitura: extensão de altura de notas que o cantor pode emitir facilmente (limite de graves e agudos).

LORNA EARNSHAW